Setembro Amarelo – Um mês para brilhar vidas

Para viver, há necessidade de ser visto e acolhido pelo outro

Renata Canales*

Setembro é o mês da campanha nacional dedicada à prevenção do suicídio. Mundialmente, no dia 10 de setembro declara-se a preocupação com o ato de tirar a própria vida. Um dia, um mês, uma travessia que pode ser rompida a qualquer momento. O alerta a essa interrupção é demonstrado, muitas vezes, por sinais de tristeza, de desencontro consigo mesmo, com mudanças de humor, de hábitos.

O uso do provérbio ‘Cachorro que ladra, não morde’, para indicar um possível suicida, é erro abismal. Quem fala em se matar, não está ‘espetacularizando’ o sentimento e merece ser ouvido, precisa de atenção. Não são palavras ao vento, não são dizeres a serem ignorados. Há um pedido talvez de ajuda, talvez de comunicado, mas certamente uma dor desmedida na alma.

A Existência de duas almas

Em O Espelho, Machado de Assis revela o conteúdo do conto já no subtítulo, “ Esboço de uma nova teoria da alma humana”. É a formulação da existência de duas almas ao homem: uma relativa ao seu íntimo, a que“ olha de dentro para fora”; outra ao ser transcendental, determinado em espaço, tempo e na relação com os outros. Na história, a suspensão da alma externa do personagem leva-o ao vazio do nada. Sozinho, separado do outro que lhe concedia prestígio por se tornar alferes, ele só volta a ter a imagem refletida no espelho ao vestir a farda militar, reconquistando assim a essência perdida.

 A conclusão da narrativa é de inviabilização da vida se as duas almas não estiverem frente a frente. E se fatores externos, na fábula machadiana, podem desfazer a alma transcendental, teríamos então, todos nós, como sociedade, relação com o desencadeamento da angústia de um futuro suicida, a quem foi negada a transcendência por via da relação com outros?

A importância de especialistas

Que os sinais da ruína de uma das duas almas, narradas pelo “ Bruxo do Cosme Velho”, consigam chegar aos olhos, olfato, tato de quem esteja perto, para que seja possível a tentativa por especialistas – psicólogos e psiquiatras – de deter o suicídio. Afinal, com o cessar de uma jornada, muitas outras vidas que amavam o protagonista daquele trajeto, perdem também um pedaço de suas almas.

*Jornalista, profª mestre da FAPSI

Veja o vídeo com a entrevista sobre o tema Prevenção ao Suicídio,  com o psicólogo Prof. André Bordini, realizada em setembro do ano passado pelo diretor geral da FAPSI, Henrique Tucci.

Link: https://youtu.be/dj58DYZwVk4https://youtu.be/dj58DYZwVk4